O nosso simbolo...

Luísa Aguiar

Numa época de profundas alterações no Ensino, muito recentemente, na Educação Especial, com o Decreto-Lei n.º 3/2008, em substituição do Decreto-Lei n.º 319/91, urge pensar criticamente o papel da Educação (Especial), e (re)equacionar novos trajectos que dêem a oportunidade a Todos de estudar e obter sucesso escolar.
Como professores cabe-nos o papel preponderante de defender os princípios consignados na constituição portuguesa, na Lei de Bases do Sistema Educativo e no Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro.
A inclusão baseia-se num sistema de valores que faz com que todos se sintam bem-vindos e realça a diversidade que tem como base o género, a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou a deficiência.
A escola para todos deve responder adequadamente a todas as crianças com e sem necessidades educativas especiais. Pressupõe mudanças relativamente à forma como são encaradas as dificuldades educativas, com transformações metodológicas e organizacionais beneficiando todas as crianças.
A mudança autêntica ocorre primitivamente ao nível conceptual, reflectindo-se posteriormente nas práticas educativas eficazes na sala de aula, na interacção com as crianças com e sem necessidades educativas especiais e, no investir positivamente nas relações interpessoais entre os professores, visando a activação do potencial de desenvolvimento e aprendizagem da criança com e sem necessidades educativas especiais.
Com o intuito de dar resposta a todas as crianças, o professor deve planificar a aula como um todo e atender a que esta deva ser preparada para o conjunto da turma. Utilizar os próprios alunos, apelando às suas experiências e aos seus saberes. A improvisação, ou seja, capacidade de modificar planos e actividades à medida que ocorrem, em resposta às reacções dos alunos na turma. Encorajar a participação activa dos mesmos.
É crucial também a experimentação na sala de aula e a reflexão sobre as actividades. O sucesso está no trabalho em equipa. Os professores em conjunto reflectem de forma mais assertiva sobre a eficácia das práticas desenvolvidas com os alunos.
A prática reflexiva ajuda os professores a objectarem as dificuldades que surgem, sensibiliza-os a novas formas de pensar e ajuda-os a aperfeiçoar as suas práticas na sala de aula. É essencial para a formação profissional e melhor desempenho dos docentes. Há uma partilha de poder entre o professor do ensino regular e de educação especial, em virtude de, actualmente, ter de ser a escola no seu todo, a responder eficazmente às necessidades da criança com necessidades educativas especiais. Para tal é importante que as escolas se organizem de forma a darem resposta e apoiarem os esforços dos docentes.
Relativamente aos factores de mudança das escolas é necessário considerar a liderança eficaz por toda ela: envolvimento de todos nas orientações e decisões da escola; planificação cooperativa; estratégias de coordenação; investigação e reflexão; valorização profissional de toda a equipa educativa.
Ao longo dos tempos foi exigido um novo papel ao professor de educação especial. Foi reclassificado como “professor de métodos e recursos” que actua como um consultor de apoio junto do professor da classe regular. Nesta sequência é-lhe solicitado mais competências e qualidades.
O seu trabalho é muito diversificado, envolvendo alunos, professores, administradores e pais, é por isso preciso que estejam sempre disponíveis para responder a crises e a problemas imprevistos.
O professor deve orientar o pessoal da escola a desenvolver expectativas positivas em relação aos alunos com deficiência. Deve trabalhar em equipa com os professores das classes regulares, devendo ter capacidade de comunicação e determinação para resolver problemas difíceis.
Um dos aspectos essenciais é a formação permanente dos professores. Devem participar em sessões de formação regularmente que incluam apresentações feitas por técnicos especializados e discussões de interesse geral. Devem assumir a liderança na formação de professores do ensino regular sobre estratégias a adoptar para atender de forma adequada os alunos com necessidades educativas especiais.
O currículo inclusivo deve ser comum a todos os alunos, garantir um ensino com níveis diversificados e que lhes proporcione todos os níveis de oportunidades para se envolverem de forma positiva nas actividades da classe. Deve ser um currículo baseado em actividades em que os alunos aprendam fazendo.
Segundo Margaret Wang (1997) onde explicita quais as condições favoráveis à aprendizagem na sala de aula e a forma como encaram a possibilidade de promover a aprendizagem do currículo comum, por parte de todos os alunos. Uma das tarefas mais importantes para o progresso educativo é decidir como responder de forma eficaz às necessidades educativas de um número crescente de alunos com características diversas, de forma particular os alunos com N.E.E. A reorganização das escolas e o trabalho em equipa são aspectos preponderantes.
A resposta das escolas às necessidades dos alunos, apesar dos avanços nas ideias e na investigação sobre as diferenças e a eficácia no ensino, têm nutrido pouco reconhecimento e têm tido pouco impacto na forma através da qual as escolas respondem às necessidades dos alunos. As estratégias convencionais, por vezes, utilizadas para apoiar os alunos contribuíram para agravar os problemas de aprendizagem. Assim ao tentar-se conseguir a igualdade de oportunidades educativas sem assegurar um igual acesso ao currículo normal, a desigualdade é perpetuada de forma bem mais subtil. As escolas têm de sofrer uma grande mudança conceptual e estrutural para que os alunos tenham sucesso numa educação “básica” através do acesso idêntico ao currículo comum.
As descobertas das últimas investigações, em consonância com o conhecimento prático que advém da implementação de programas inovadores nas escolas, contribuem significativamente para a nossa actual compreensão do que constitui um ensino eficaz e da forma como pode ser melhorada a aprendizagem dos alunos.
Das variáveis que levam os alunos a aprender nomear-se-á o tempo utilizado na tarefa, no ensino directo de competências básicas de leitura e matemática, o acompanhamento e orientação pelo professor, a promoção da auto-responsabilidade do aluno e das estratégias metacognitivas, o ensino directo, claro e organizado, as expectativas claras sobre as competências a adquirir, a reacção apropriada do professor face às respostas correctas e incorrectas, o ambiente social na classe seguro e disciplinado.
De seguida, apresentar-se-á um possível modelo de educação inclusiva. Segundo Mel Ainscow (1997), na Escola Inclusiva, a intervenção já não se orientará apenas no sentido de minorar as dificuldades da criança, mas antes no sentido de criar condições para a sua realização enquanto pessoa, anulando barreiras nos contextos em que a criança vive. As dificuldades educativas passam a significar, pelas alterações metodológicas e organizacionais que exigem, “um estímulo à criação de um ambiente educativo mais rico para todos”; as medidas educativas especiais passam a abranger todos os contextos relevantes da vida da criança. Nesse sentido, Margaret Wang (1997) chama a atenção para o reconhecimento de que se o ensino for de qualidade para todos, algumas características pessoais e de aprendizagem são alteráveis, tais como, as características familiares; a cognição e os processos de aprendizagem; a motivação dos alunos; os papéis que os alunos desempenham nas suas próprias aprendizagens. Daqui, o interesse pela modificação dos contextos e estratégias educativas, com vista a adaptações eficazes nos currículos e métodos.
Assim, a Inclusão passa a ser entendida como abordagem que desloca a sua acção para a escola enquanto organização, dando ênfase à reestruturação dos contextos. O conceito “educação inclusiva” respeita a todo o sistema de ensino, baseando-se na diferenciação curricular e num currículo em construção.
O modelo inclusivo tem de organizar-se com quatro componentes, nomeadamente, a do conhecimento do aluno e dos seus ambientes de aprendizagem; a da planificação apropriada, com base nesse conhecimento; a da intervenção adequada; a da reavaliação. A escola que pretenda seguir o modelo inclusivo tem de contar com os seguintes pressupostos, sendo eles, um sentido de comunidade e de responsabilidade; uma liderança crente e eficaz; padrões de qualidade elevados; sentido de colaboração e cooperação (criação de parcerias, inclusive com pais – a participação e integração dos pais é fundamental); ambientes de aprendizagens flexíveis; estratégias de aprendizagem baseadas na investigação; novas formas de avaliação; desenvolvimento profissional continuado. É urgente que os docentes invistam na sua formação contínua e especializada.
Os professores, passam a intervir mais directamente com os alunos com N.E.E.; o professor de educação especial e o psicólogo devem trabalhar mais directamente com os educadores e/ou os professores; os outros agentes educativos e os pais devem assumir participações mais activas nos processos de aprendizagem dos alunos, sendo assim disponibilizado um sistema de apoio que assista o professor e o torne capaz de resolver problemas, de forma cooperativa e colaborativa.
Como tal, na escola inclusiva, qualquer criança tem lugar na escola mais próxima da sua residência, que saberá flexibilizar currículos e métodos, implicar pais e comunidade envolvente. Por isso, vem sendo afirmado agora que é urgente deixar de usar a expressão “escola inclusiva”, que é em si mesmo estigmatizante, passando a dizer apenas “Escola” ou “Escola Contemporânea”, para dizer que todos têm lugar na escola, e que está preparada para todo o tipo de alunos nela se desenvolverem até ao seu máximo.
Posto isto, e concordando com Mel Aiscow é correcto dizer-se que a colaboração entre colegas é importante especialmente na área das NEE. Contudo, esta colaboração conduziu à preocupação de encontrar métodos de ensino e materiais “certos” para os alunos que não respondem às estratégias estabelecidas. Para que tal seja possível é necessário passar de uma visão estreita e mecanicista do ensino para outra de características mais vastas e que tome em consideração factores contextuais mais alargados, incluindo dimensões comunitárias e organizacionais. Além disso, os professores devem criar um ambiente educativo determinado pela acção e pela reflexão. Assim, é-lhes possível reflectir sobre os processos que lhes permitirão recriar e inventar métodos de ensino e materiais, partindo das realidades contextuais. Devem ainda ter em conta as percepções do status socioeconómico no que concerne à deficiência, na medida em que nós somos influenciados pela sociedade e esta não vê a deficiência com bons olhos (com pena, como aquele que não consegue ir mais para além…), mas o professor ter que ser isento, não se deixando influenciar por estas perspectivas e trabalhar arduamente para que estas crianças consigam alcançar o sucesso. Os professores devem encarar a elaboração, selecção e utilização das estratégias e do método de ensino tendo por base as percepções da aprendizagem e os próprios alunos, na medida em que “os métodos pedagogicamente mais avançados correm o risco e se tornar ineficazes nas mãos de educadores que, implícita ou explicitamente, subscrevem um sistema conceptual que encara alguns alunos, na melhor das hipóteses, como limitados e com necessidades de recuperação, ou, na pior das hipóteses, como deficientes e sem possibilidades de recuperação…”. É urgente mudar esta perspectiva, o professor tem que ser o primeiro a acreditar nas potencialidades do aluno e transmitir-lhe tal segurança e confiança e, felizmente, no Projecto UNESCO defendido por Mel Aiscow, as abordagens educativas dão ênfase à aprendizagem activa e no trabalho cooperativo de grupo, onde é possível ajudar a criar ambientes mais adequados à aprendizagem, em que os alunos são tratados como indivíduos.


Luísa Aguiar