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Vera Martins

A Geração Net Chegou!
A Necessidade de Formação dos Professores nas TIC, Para Trabalhar em Direcção a Uma Sociedade de Informação Genuinamente Inclusiva…





     Quando falamos em “geração Net”, referimo-nos inevitavelmente aos filhos da idade digital, de uma revolução das comunicações que está a moldar uma nova geração e o seu mundo, um fenómeno jamais visto. Mas o que é que torna essa nova geração tão diferente das anteriores? Um facto simples: é a primeira a nascer e crescer rodeada de “media” digitais. Nalguns países e em diversos estratos sociais, os computadores estão em casa, na escola, na fábrica e no escritório. Tecnologias digitais como as máquinas fotográficas e de filmar, os jogos de vídeo e os CD-ROM são moeda corrente. Estes miúdos estão hoje tão submergidos em “bits” que eles julgam que tudo isto é parte integrante do ambiente em que vivem, é tão natural como a vida. 

      De facto, para os miúdos informados de hoje, a TV é coisa antiquada. É unidireccional, com o poder de escolha da programação e dos conteúdos na mão de uns poucos adultos, e, muitas vezes, o produto que nos mostra é nivelado absolutamente por baixo. Ora, na Net, eles controlam muito do novo mundo. É algo que eles próprios moldam. Se há uma coisa que os miúdos percebem que muito adulto não entende é que a Net é um novo meio de interacção entre pessoas. Provavelmente, arriscarei dizer, que é o primeiro meio interactivo de transmissão social desde os tempos do contador de histórias pelas aldeias e vilas. Sem dúvida que meios tradicionais, como a carta, o telégrafo ou o telefone, são interactivos, mas são sistemas fechados. São meios de comunicação privada e não de socialização. 

      Nunca tanto como agora, as crianças têm necessidade de aprender e a pensar criticamente. Por tudo isto, também a cultura da aprendizagem está a sofrer um verdadeiro renascimento dourado. Para que se possa acompanhar as mudanças da sociedade e ir de encontro a esta nova geração, é necessário investir na formação de profissionais e para que todos possam adquirir competência informática, a par da competência de leitura e escrita. Os recursos tecnológicos aumentam a probabilidade dos alunos aprenderem mais, pelo que poderão significar um maior grau de sucesso escolar e poderão permitir uma maior interacção entre professores e alunos.

      É desnecessário dizê-lo: muitos adultos têm dificuldade em aceitar isto e sobretudo em ver o potencial que este paralelismo tem. Daí a necessidade dos professores terem formação nesta área. Só assim, poderão desenvolver a sua confiança na capacidade de utilização das TIC. A falta de segurança e a ansiedade por ela provocada constitui um dos factores que mais inibe a utilização das novas tecnologias pelos educadores/professores (Crook, 1998; Stables, 1997). Existe ainda uma ampla falta de conhecimento sobre as possibilidades e objectivos do uso das TIC em contexto educativo.

      Sendo assim, a formação dos educadores é naturalmente crucial em todo e qualquer processo que vise a adequada integração das tecnologias em contexto educativo. Quando os professores/educadores aprendem a usar a tecnologia no contexto da sua escola, da sua sala, com as crianças reais e de acordo com objectivos igualmente reais, têm muito mais possibilidades de beneficiarem desta formação e com ela melhorarem a qualidade dos contextos de aprendizagem em que desenvolvem a sua actividade e irem de encontro às necessidades dos seus alunos. 

     Importa ainda fazer sentir aos educadores/professores que as novas tecnologias, para além de instrumentos promotores de experiências educativas junto das crianças, são também meios de comunicação e de colaboração entre profissionais. Através das possibilidades de comunicação online, permitem estabelecer facilmente interacção entre pares e com especialistas, abrindo desta forma um leque muito vasto de oportunidades de formação cooperativa.

      Remetendo-me agora especificamente para a Educação Especial, não posso deixar de referenciar que é necessário alargar uma formação pedagógica especializada baseada nas TIC na Educação Especial, para que estas sejam utilizadas como meio de apoio à inclusão e como meio de facilitar o acesso ao currículo.
Todos sustentamos uma visão comum: a de trabalhar em direcção a uma sociedade de informação genuinamente inclusiva baseada na participação de todos, incluindo os alunos com necessidades educativas especiais. Isto é comprovado por vários debates e deliberações que forneceram pistas claras para o futuro das TIC na Educação Especial. Por exemplo, em Setembro de 2002, o Ministério da Educação de Portugal e a Agência Europeia para o Desenvolvimento da Educação Especial realizaram uma conferência internacional sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação Especial, onde se constatou ser crucial a formação de redes regionais, nacionais e inter-nacionais para facilitar ligações entre as boas práticas, os centros de recursos e indivíduos. Na verdade, o desenvolvimento e a transformação da escola necessitam de um apoio mais especificamente dirigido, com informação e supervisão do trabalho das TIC na Educação Especial.

      Todos os possíveis financiadores na sociedade de informação devem ter uma acção no desenvolvimento das práticas no domínio das TIC na Educação Especial. De forma a tornar esta visão uma realidade, incluem-se: profissionais das escolas, alunos e suas famílias, serviços de apoio e equipa dos centros de recursos, responsáveis políticos aos vários níveis, organizações comunitárias e ONG, mas também empresas e investigadores. É necessário que estes financiadores sejam envolvidos para darem os primeiros passos em direcção à definição de linhas orientadoras sobre a proporção PC/alunos, contribuindo assim para que as TIC actuem como um real facilitador do acesso ao currículo para os alunos com NEE.

      A promoção de equipas de trabalho entre professores e outros profissionais, também poderá ajudar a encontrar adequadas soluções, para que as TIC respondam às necessidades individuais de aprendizagem. Daí a necessidade dos diferentes professores terem acesso “fácil” ao uso de hardware e software, disponíveis para a Educação Especial, que sigam o princípio do formato “para todos” e percebam como podem intervir adequadamente, através dos mesmos. Contudo, na profissão de docente, deve existir uma maior aceitação da responsabilidade do professor pela sua própria aprendizagem e desenvolvimento em TIC.

     A verdade é que à medida que os educadores/professores se tornam utilizadores mais competentes e confiantes da tecnologia utilizando-a no âmbito da sua formação profissional, tornam-se também mais aptos a utilizarem-na adequadamente com “todos” os seus alunos, indo assim de encontro às suas necessidades e contribuindo para uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Publicado a 03 de Junho de 2010